
Do programa constam três palestras: “A origem do Universo e do Homem segundo a Filosofia Oculta”de Rosa Maria Oliveira; “Quando o Eu começa por ser Nós” proferida por mim, Claudia Pinheiro, e “Somos Elos de uma mesma Cadeia” de Ângela Marques.
"Estás tenso como a armadilha de um caçador; bem disfarçado, o que é que estás a esconder? Cara de póquer, esculpida em pedra, entre amigos mas sozinho, porque te fechas?
Diz qualquer coisa, diz algo, seja o que for, já te mostrei tudo, faz-me um sinal. Diz qualquer coisa, diz algo, seja o que for; o teu silêncio é ensurdecedor; retribui-me de qualquer forma!
Toma uma droga para te pôr em liberdade. Fruto estranho de uma árvore proibida, tens que voltar em breve. Preciso de mais do que de uma droga, preciso de uma modificação de cenário, preciso de uma nova vida.
Diz qualquer coisa, diz algo, seja o que for, já te mostrei tudo, faz-me um sinal. Diz qualquer coisa, diz algo, seja o que for; o teu silêncio é ensurdecedor; retribui-me de qualquer forma!
Diz qualquer coisa, eu estou aberto a tudo, aberto a imaginar. Já engoliste tudo? retribui-me de qualquer forma!"
James
Uma obra do mímico francês Jérome Murat que nos inspira a olhar a realidade com outros olhos, a reconsiderar o nosso lugar neste mundo, e a rever os nossos relacionamentos com os outros. Esta fascinante performance tem tanto sucesso e tanto impacto para muitas pessoas, não só pela sua qualidade artística, mas também porque para cerca de um décimo de todos nós ela soa a qualquer coisa conhecida...
Ele conta a história de um homem estátua que é surpreendido por uma segunda cabeça igualzinha à sua, que estava dissimulada em si. Depois de ela despertar e o saudar amorosamente este homem, ele por sua vez, desperta também para a vida. Da dualidade e empatia entre eles surge a alegria, a descoberta, mas também a competição pelo protagonismo: como podem coexistir duas cabeças no mesmo corpo? Ele tenta então suprimir à força a cabeça que acaba de se revelar, mas desse acto de abuso de poder resulta um momento grandioso, como que uma intervenção superior, quase divina. Imediatamente, revogando a sua decisão, o homem rejeita então a sua própria cabeça e opta pela cabeça que tinha latente em si. Vejam:
A sua verdadeira cabeça, antes encoberta, assume finalmente o devido lugar, ao conquistar o lugar da cabeça que o homem julgava ser a sua (e que poderiamos atribuir ao seu irmão gémeo perdido).
"Foi assim que me abandonaste, estou a falar a sério, sem esperança, sem vida, sem honra, sem um final feliz.
Acordo de manhã, tropeço na minha vida, não consigo receber amor sem esforço. Se alguma coisa acontecesse, acho que bem te desejava um bocadinho de céu e também um bocadinho de inferno.
Esta é a história mais difícil que alguma vez contei, sem esperança, sem vida, sem honra, o nosso final feliz sumido para sempre.
Sinto-me como se me estivesse a destruir, todos os dias me desperdiço.
Foi assim que me abandonaste, estou a falar a sério, sem esperança, sem vida, sem honra, sem um final feliz. Amámos como se fosse para sempre, mas não viveremos juntos o resto das nossas vidas.
São duas da manhã, tenho algo na minha mente, não consigo descansar, continuo a andar às voltas. Se fingisse que nunca nada de mau aconteceu, podia voltar a dormir, e pensar que podiamos simplesmente seguir o nosso caminho. (...) "
Mika - Happy Ending
Uma carta de Eloïse, membro da Associação wombtwin.com a uma mulher desesperada pela dificuldade em lidar com o sofrimento que a invade quando pensa na sua irmã gémea que, há pouco tempo, tomou consciência ter perdido no início da sua gestação.
Cara amiga
Ai, aquele vazio e aquela perda... são tão profundos... e talvez nunca possam vir a ser preenchidos, mas realmente acredito que em grande medida podemos curar-nos.
É natural que sinta a dor e a tristeza - está reviver as emoções da sua vida intra-uterina e são tão intensas porque, como sabe, morreu ali uma parte de si... a sua amiga mais chegada, a sua alma gémea, ... Acredito que temos de ser nós a preencher esse vazio a partir de nós próprios; não podemos esperar que alguém o venha preencher desde fora.
Reservarmos um cantinho nos nossos corações para o amor por aqueles que são e serão sempre os nossos companheiros de espírito mais próximos, não tem mal nenhum.
Descobri acerca dos meus companheiros de ventre perdidos (irmã idêntica e irmão fraterno) há aproximadamente 7 anos, por N.E.T. (quinesiologia). Tem sido uma grande viagem. O que tenho aprendido é que provavelmente é mais curador não estar à espera de uma espécie de ponto final. É uma viagem da aceitação que tem muitas curvas e solavancos, há períodos de grande alegria e uma sensação de unidade, e logo o contrário. Tenho de admitir que ainda estou a lidar com a minha vivência no ventre e a aprender cada dia mais... mas sei agora que é antes de tudo, e em primeiro lugar, uma questão de saber perdoar-se. Ainda estou a trabalhar nisto!!! Conseguir perdoar-se a si próprio é parte integrante da história, tenho a certeza, porque penso que a maioria sente várias formas de culpa-de-sobrevivente. Lembro-me que no passado me foi útil pensar que a nível espiritual houve um momento em que cheguei a um acordo com os meus trigémeos. Foi em conjunto que decidimos o caminho que as coisas deviam tomar, e assim não há necessidade de me sentir culpada por estar viva.
A perda é enorme, mas penso que quando compreendemos a relação que temos com os nossos gémeos 'perdidos', podemos aceitá-la. Eles estão lá para nós quando precisamos deles (não estão realmente PERDIDOS, apenas partiram nas suas próprias viagens) – e penso que através deles temos o dom de conseguir explorar outros mundos.
Trata-se de conseguirmos encontrar aquela parte de nós próprios – chamem-lhe intuição ou uma empatia assombrosa que muitos de nós têm, ou uma orientação mais alta – que eu penso ser a nossa conexão aos nossos gémeos e múltiplos. Eles falam-nos através dessas coisas, para alguns será talvez a natureza, a criatividade para outros, seja o que for será algo que nos faz entrar em contacto com aquele conhecimento interior de que existe ali algo maior do que nós... bem, isto é como o vejo... Estamos cá para compartilhar o dom de termos experimentado esta breve conexão profunda, e logo aprendermos a transportá-la para as nossas vidas possivelmente através do nosso trabalho, dos nossos amores, das nossas crenças espirituais, etc.
Ser capaz de partilhar a vida com os demais sem deixar que a nossa vivência no ventre tome conta de tudo é algo de tão complexo! Continuo a trabalhar nisto diariamente!!!
Você encontrará um modo de comunicar-se com a sua gémea. A escrita, o desenho, o exercício, a marcha na natureza, a natação, a dança, a música, o canto, etc. A escrita com a mão não-dominante pode ser um grande método de deixá-la falar-lhe. Fale com a sua gémea, dê-lhe um nome, faça o luto por ela, faça-lhe um funeral, e a parte mais difícil está em deixá-la ir no sentido de lhe permitir viver a SUA vida, sabendo que ela quereria que fosse muito feliz aqui na Terra.
O meu conselho é que deve permitir-se sentir tudo - grite tanto quanto precisar de gritar, bata em almofadas ou algo assim, faça algum exercício se puder, mova-se um pouco ao ar livre... mas antes de tudo assegure-se de que toma todo o cuidado consigo, que se trata com respeito, como o faria com alguém em aflição. É realmente importante saber honrar o que está a sentir, e como as ondas no oceano, lá virá um dia em que se sentirá mais calma. Tome o tempo que for necessário. Lembro-me de que nalgum momento na minha viagem imaginei-me como uma criança que eu acarinhava, a quem ternamente dizia que estava tudo bem, estava em segurança, era amada etc. ... Faça o que lhe parecer adequado para si - você saberá. Confie no seu instinto, ninguém mais pode saber como é melhor para si. O luto é uma coisa tão pessoal para todos nós. Só você saberá como lidar com ele porque você é uma SOBREVIVENTE. Você é forte.
Estamos todos no mesmo barco, possivelmente em etapas diferentes das nossas viagens, desejo-lhe o melhor para a sua. Seja meiga para consigo,
Eloïse
Uma canção de Adriana Partipim (animada por um fan, imagino) que, lida do nosso ponto de vista, dá uma ideia do sentimento de saudade e falta que gémeos sobreviventes muitas vezes experimentam. Ora vejam:
Há muitos mais cantores, poetas, e artistas de todo o tipo onde se pode ler nas entrelinhas a sua experiência como sobrevivente de uma gestação multipla. Só alguns nomes: Ian Curtis dos Joy Division, Robby Williams, Leonard Coen, Elvis Presley (o seu irmão morreu à nascença, ver aqui), e o grande poeta português Fernando Pessoa também tem todas as características...
Os vossos comentários são bem-vindos, podem mesmo dar a conhecer outros nomes que vos pareçam fazer parte desta lista.
No passado dia 21 de Junho participei em Londres na 1ª Conferência anual da Wombtwin.com, com o tema Da Teoria à Terapia. Tive assim a oportunidade de conhecer pessoalmente quem está à frente desta organização realmente pioneira que investiga e apresenta pública das consequências pisco/emocionais que caracterizam os gémeos sobreviventes de gravidezes gemelares.
Acompanhados por de cerca de 30 participantes de diversas idades e nacionalidades, lá estavam Althea Hayton e Nick Owen, duas pessoas bastante diferentes que se completam no modo como abordam o trabalho acerca de gémeos sobreviventes. Ela com a busca minuciosa da evidência científica e dos dados estatísticos, e ele mais com uma observação do ponto de vista psico-emocional; gente que assume com consistência a sua razão, que se apresenta com uma invejável segurança no futuro e uma alegre tranquilidade no presente.
Althea Hayton falou dos efeitos físicos e psicológicos de ser gémeo sobrevivente de uma gravidez múltipla, apresentando ao seu modo transparente e objectivo um powerpoint, a consultar aqui.
Nick Owen apresentou de um modo mais poético a questão da busca de uma terapêutica adequada para gémeos sobreviventes. Encontrar um terapeuta preparado para trabalhar com sobreviventes de gravidezes gemelares não é fácil, é ir contra a maré, há demasiado conhecimento, demasiados factos que se opõem a essa "hipótese". Como afirma Nick "A Sociedade tem um bloqueio em relação a aceitar as vivências pré-natais, e nós próprios, os gémeos sobreviventes, temos esse bloqueio em nós, lutamos com ele diariamente. Precisamos como terapeuta de alguém muito especial, porque o nosso é um problema muito especial".
Para dar resposta ao trabalho psicoterapeutico no âmbito do trauma pré natal, como é aqui o caso, ficou bem clara nesta conferência a necessidade de uma evolução nas psico-terapias. Segundo John Rowan, o palestrante que falou do papel do gémeo desaparecido na psicoterapia pré e peri-natal, "entrar no pré-natal implica entrar nos níveis subtis do transpessoal, do simbólico, e isso aponta para um trabalho com o uso de rituais e o trabalho com imagens".
Para além dos assunto apresentados pelos especialistas, os temas que vieram à baila nas discussões participadas pelos presentes foram igualmente atraentes. Nesses debates, e também nos intervalos, todos aproveitaram para trocar experiências e vivências pessoais, o que criou um clima de união, como se aquele evento fosse uma festa entre amigos que há muito tempo não se viam. Pode ler aqui (em inglês) alguns comentários dos participantes, registados no final do dia.
Ver mais informação relacionada com os rituais africanos aqui.
Muitos meios-gémeos manifestam nas suas vidas, e nomeadamente na adolescência, ansiedades e outros indícios resultantes da vivência de morte por que passaram mesmo antes de nascer. Mas também há casos de gémeos sobreviventes que não apresentam na sua vida futura nenhum tipo de angústias profundas. O que podem então os pais fazer pelos seus filhos gémeos sobreviventes na fase da infância para ajudar?
Em primeiro lugar, caso não tenham já a certeza quanto à existência de um gémeo desaparecido na gestação do seu filho será necessário observar a situação, fazer um diagnóstico. Com a ajuda da seguinte lista de sinais característicos geralmente presentes em crianças meias-gémeas, pode chegar à conclusão se o seu filho pertence ao grupo dos gémeos sobrevivente. Se ele apresentar algumas destas características: é diferente das outras crianças; é muito empático, sensível ao ambiente que o rodeia; tem uma imaginação rica, criativa; fala muito sobre a morte; gosta muito de animais; tem um amigo imaginário; interessa-se pela espiritualidade; mas por outro lado, se é excluído pelos amigos; odeia competir e prefere trabalhar em conjunto com toda a gente, se tem baixa auto-estima; não gosta de dormir sozinho; parece perdido e sozinho, ou se é hipersensível, pode por a hipótese, com muita probabilidade, de que ele tenha vivido a morte do seu irmão gémeo, uma situação de extrema perturbação emocional, no início da vida intra-uterina dele.
Pode ainda perguntar-lhe directamente se ele se recorda de ter havido mais alguém com ele quando estava na barriga da mamã. Esta pergunta deve ser feita num momento em que ele esteja calmo, sozinho consigo, antes de adormecer, por exemplo. Normalmente as crianças têm uma grande facilidade de entrar em contacto com essa memória recôndita. Se ele se recordar de algo pode perguntar-lhe ainda: – E como é que te sentias com ele/a?, ou – O que foi que aconteceu depois? A criança pode ficar triste ou perturbada, abatida mesmo, e se for esse o caso dê-lhe todo o conforto possível acolhendo a sua tristeza. Ela estará a fazer um luto, e esse processo é muito curativo para ela.
As investigações nesta área parecem indicar que se um indivíduo souber desde cedo que teve um gémeo, esta informação passa a fazer parte dele, ajudando-o a compreender melhor as suas sensações. Deste modo ele saberá que está a responder de modo perfeitamente normalmente à real perda da sua "outra metade". O melhor que os pais destas crianças podem fazer é contar-lhes desde o início que tiveram um irmão gémeo.
Tomando estas medidas de prevenção pode ter mais meios para lidar melhor com o seu filho:
- Informar-se acerca dos pormenores médicos da gravidez dele, de modo a poderem ir respondendo às perguntas do filho à medida que forem surgindo.
- Manter-se informados sobre os potenciais efeitos psicológicos da perda pré-natal de um dos gémeos de modo a aperceber-se atempadamente se surgirem problemas.
- Entrar em contacto com outros pais de gémeos sobreviventes para suporte mútuo e partilha de informação.
- Criar para o filho uma espécie de prova física do gémeo desaparecido: uma estátua, um brinquedo especial ou uma planta no jardim, etc. como foco das sensações de tristeza ou perda, para o caso que surjam.
- Validar as sensações do seu filho frente ao cepticismo dos outros, que gémeos sobreviventes realmente têm uma sensação de que lhes falta algo – mesmo que não lhe seja fácil acreditar nisto!
- Estimular o seu filho com amor e aceitação.
O facto do seu jovem sobrevivente ser "diferente" pode ser celebrado como um presente especial, já que eles são muitas vezes miúdos muito sensíveis e empáticos, e que gostam de cuidar de quem os rodeia.
Se tiver outras dúvidas pode contactar comigo directamente para wombtwin.pt@hotmail.com.
Bibliografia: Is your child a wombtwin survivor, What to tell my wombtwin survivor child and when
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