Womb Twin - Portugal

Gémeos singulares são pessoas que partilharam parte da sua vida intra-uterina (na maioria das vezes apenas umas semanas) com um ou mais irmãos ou irmãs gémeos idênticos ou fraternos que não chegaram a nascer. O segredo mais bem guardado até hoje é que o pequeno embrião já tem consciência, já guarda memória.

HAVERÁ PESSOAS GÉMEAS NASCIDAS SINGULARES QUE SOFREM TODA A SUA VIDA, COMO CONSEQUÊNCIA DESSA PERDA DO SEU COMPANHEIRO INICIAL?

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Ressentimento ou raiva constantes

O Sonho do Ventre é, segundo Althea Hayton, uma impressão vaga e inefável, uma memória perdida, que permanece profundamente implantada na parte mais primitiva do nosso cérebro. Não sendo exactamente um sonho, esta é a palavra mais adequada para descrever o que obviamente está além das palavras.
Psicólogos, embriologistas e terapeutas de várias disciplinas têm vindo a debruçar-se sobre os efeitos da experiência pré-natal na mente do indivíduo sobrevivente. Hoje em dia já é consensual entre os investigadores a crença de que todos nós transportamos uma impressão da nossa vida antes do nascimento.

O aspecto interessante do Sonho do Ventre do gémeo sobrevivente é a necessidade de manter vivo aquele sonho, pois é lá que se encontra o seu irmão perdido. A consequência de ter sobrevivido a essa perda não se resume à solidão e ao abandono. Ressentimento ou raiva, são forças destrutivas que podem igualmente consomir lentamente muitos gémeos singulares.

O ressentimento é aquela sensação que surge na sequência de Grandes Males. A pessoa que vive com uma sensação constante, secreta e inquieta de ressentimento, é obrigada, dia a dia, a direcionar para esse sentimento, um incrível montante de energia.
• podemos ressentir-nos de algum dano no passado ou algo de que fomos vítimas;
• podemos ressentir-nos do facto de que algo é injusto;
• podemos ressentir-nos de alguém que simplesmente não entende como nos sentimos;
• podemos ressentir-nos do mundo ser como é, cheio de dor e sofrimento.
O ressentimento é poderoso porque contém zanga e sofrimento - tem um cunho de auto-preservação; sente-se digno porque há que proteger os direitos de alguém; ou, sente-se absolutamente autêntico porque aquelas sensações são muito verdadeiras.
E se na realidade tivermos mesmo perdido alguma coisa? e se houve uma luta entre a vida e a morte? E se o mais débil realmente faliu? E se a nossa vida veio à custa da vida de alguém outro? E se o que nos retém for a culpa de ter sobrevivido?

Outros passam de uma depressão profunda para uma raiva tal, que atacam tudo e todos sem se preocupar a quem prejudicam. A mensagem é clara; "quero que o mundo sinta a minha dor!"
Esta raiva vem da expressão directa da rejeição pré-natal. Não foi a mãe quem nos rejeitou, foi o irmão gémeo por simplesmente desaparecer. A resposta típica a esta sensação de rejeição e traição é entrar em colapso, desamparo e desespero, enfurecer-se contra o outro e contra a injustiça do mundo, e/ou recusar simplesmente implicar-se na vida.
"A nível emocional, a raiva é uma resposta desolada, solitária e apavorada ao Buraco Negro, onde lhe foi originalmente feita uma promessa de luz e amor. Aquela promessa brilhante da vinculação com o irmão gémeo (a vinculação mais próxima que existe na natureza) não foi cumprida, deixando só escuridão: - um sentido de falta, de perda e de vazio." Althea Hayton
Esta raiva actua de modo alienado mas não é louca. Pode ser entendida. Ela é uma raiva contra a Natureza; contra Deus; contra o modo como as Coisas São. A vida é simplesmente inaceitável - não suportável - sem Outra Metade. Althea diz ainda: "Como Narciso, que viveu até a sua morte na contemplação arrebatada da sua imagem reflectida, ignorando amor e vida, o sobrevivente idêntico parece-se com um zombi, só meio-vivo."

Para o sobrevivente o ressentimento ou a raiva são provavelmente o único modo de exprimir na vida aquelas suas sensações originais. Estes sentimentos parecem incontornáveis mas podemos curá-los. Apenas temos que acordar para realidade, para o calor da nossa vida depois do nascimento: que estamos rodeados do amor, de gente que deseja ser nossa amiga; que ninguém está a tentar prejudicar-nos; que a dor é nossa, não é uma dor que nos está a ser imposta.
Quanto mais tempo levarmos a perdoar, a deixar ir, e a rendermos-nos pacificamente ao modo como as coisas são, mais tempo viveremos em dor e solidão.
"Você está a criar a sua dor e só você pode curá-la, simplesmente desculpando a privação que lhe coube nesta vida." Althea Hayton

Baseado em:
Keeping the dream alive, Constant, secret, seething resentment, The rage of the identical wombtwin survivor

1 comentário:

  1. Gosto dos textos que escolheste Claudia. Acho que este tema podia ser ainda mais divulgado. Abraço Jason

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