Womb Twin - Portugal

Gémeos singulares são pessoas que partilharam parte da sua vida intra-uterina (na maioria das vezes apenas umas semanas) com um ou mais irmãos ou irmãs gémeos idênticos ou fraternos que não chegaram a nascer. O segredo mais bem guardado até hoje é que o pequeno embrião já tem consciência, já guarda memória.

HAVERÁ PESSOAS GÉMEAS NASCIDAS SINGULARES QUE SOFREM TODA A SUA VIDA, COMO CONSEQUÊNCIA DESSA PERDA DO SEU COMPANHEIRO INICIAL?

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Compensando vazios

Saíu na revista Pais & Filhos de Janeiro 2010 um artigo sobre a temática dos gémeos sobreviventes.

Clicar sobre as imagens para ler o texto.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Wombtwin day 2009

Hoje celebra-se mais um dia anual do Gémeo Sobrevivente (explicação aqui) e este poema anónimo foi enviado através da Newsletter da nossa Associação mãe, a Wombtwin.com para o comemorar. Disfrutem!

MOIETY

Halfness is a divided soul.
I walk on a one-legged limp;
I see one-eyed with no depth of vision;
I cannot tell how near you are to me.

One side is emptiness and death;
An unslaked thirst; a mirage of completion:
A cracked box, empty and crumbling into dust-
What was there was something: nothing now.

The other side is yearning and pain;
Tears for two, and anguish for more than myself.
An empty chair at the feast of life.
My voice is stilled by the sheer silence of you.

How can I ever find you if I let you go?
Will we both be forever dying,
Hung in a hammock over the abyss,
Clinging to our half-life to be together?

Come to me now and we will say farewell:
Be with me for one last, brief moment!
Let us say how much we love;
Let us share just once, just once - now go!

The treasure chest stands between us.
My life, my voice, my strength, is there
Locked away for you for many years:
I want to grow, even without you -

I may.

And now I will.

FRACÇÃO

Metade é uma alma dividida. Ando coxo, numa perna; Vejo só com um olho sem visão de profundidade; Não sei o quanto estás perto de mim.
De um lado é o vazio e a morte; Uma sede acesa; uma miragem do todo: Uma caixa partida, vazia a desfazer-se em pó. O que lá havia era algo: já nada é agora.
O outro lado é saudade e dor; Lágrimas de dois, e angústia por mais que só eu. Uma cadeira vazia no banquete da vida. Minha voz calada pelo teu absoluto silêncio.
Como poderei encontrar-te se te deixar ir? Será que vamos ambos ficar ambos a morrer para sempre, Pendurados numa rede sobre o abismo, Apegados à nossa meia-vida para estarmos juntos?
Vem ter comigo agora e vamos dizer adeus: Fica comigo por mais um breve momento! Vamos dizer o quanto nos amamos; Vamos partilhar só mais uma vez, só uma - agora vai!
Temos um tesouro entre nós os dois. A minha vida, a minha voz, a minha força estão lá. Trancadas para ti há muitos anos: Eu quero crescer, mesmo sem ti --
Eu posso-o, E agora eu vou…

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Gémea siamesa sobrevivente

No dia 16 de Outubro deste ano o jornal britânico mail online publicou uma notícia sobre Holly Reich, única sobrevivente da primeira operação do género - a separação de gémeas siamesas - realizada em 1985 pelo Professor Spitz, no Hospital de Great Ormond Street em Londres. Holly relata como foi tomando consciência de que tinha tido uma gémea siamesa, como lida com a perda da sua irmã, e descreve como se sente como sobrevivente.

"Sinto que me falta uma parte de mim própria.

Tenho sempre uma sensação de vazio, é o lugar onde ela devia estar.

Sentia-me triste pela morte da minha irmã e uma sombra de culpa por ter sobrevivido eu e não ela.

Houve uma fase em que tive uma amiga imaginária secreta. Olhando para trás acho que era a minha irmã Carly."

Todos os gémeos que perdem o seu "outro self" no útero ou pouco depois do nascimento sentem essa perda como a Holly descreve. TODOS os gémeos estão ligados... (comentário ao artigo)

A afirmação de Holly que me parece inspiradora para nós é:

Demorei muito tempo para aceitar as circunstâncias do meu nascimento e para me orgulhar delas. Mas foram essas circunstâncias que fizeram de mim aquilo que eu sou.

Notícia retirada do blog wombtwin survivors

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

"Brincar aos gémeos"

Uma boa forma de compensar o vazio conscientemente, e de nutrir á posteriori a falta do nosso gémeo desaparecido, é encontrar alguém que o substitua na nossa vida; é encontrar uma pessoa que faça esse papel e nos ajude a reparar a lacuna que o gémeo perdido deixou em nós.
A proposta é de adoptar um gémeo para a nossa vida, construir conscientemente uma relação com quem esteja disposto a ocupar o lugar do nosso falecido irmão gémeo. O busílis deste processo é que temos que adoptar alguém que seja ele próprio um gémeo sobrevivente também, para poder por um lado compreender toda a dinâmica que vai surgir e por outro lado para que a relação possa ser equilibrada, e cada um tenha o seu proveito.

Uma amiga falou-me da sua experiência de adopção de uma gémea e da imensa energia curativa que essa relação lhe trouxe:

Eu recomendo vivamente a adopção de um gémeo porque nos permite sentir a gemelaridade (a nossa verdadeira natureza) que está guardada na nossa memória celular.
Como a minha gémea adoptada viveu muitos anos com a sua irmã gémea, pode mostrar-me como é ser-se gémea, experiência que eu nunca tive porque a minha irmã gémea morreu à nascença e eu tive que viver como um indivíduo singular toda a vida. Em contrapartida eu pude mostrar-lhe como é ser-se singular porque ela não tinha identidade própria. Quando a sua irmã morreu ela sentia como se tivesse morrido também, apesar de ter marido e filhos! Foi nessa altura que nos encontrámos e depois passamos cinco anos a brincar às gémeas.
Surpreendentemente, apesar de eu viver em Nova York e ela na Califórnia, tornámo-nos "gémeas psíquicas" - ela ligava-me a dizer "Eu perdi minha carteira, onde está?" e eu dizia-lhe para "ver atrás da cadeira ao lado da porta". Estávamos em sincronia, aconteciam-nos as mesmas coisas que acontecem aos gémeos.

Há dois anos, no dia do meu aniversário, uns dos meus melhores amigos levaram-me a jantar fora, e a ver um filme. Eu estava muito emocionada e divertida quando inesperadamente, uma imagem na tela do cinema desencadeou em mim a memória da estadia na maternidade, quando 24 horas depois do nosso nascimento a minha irmã morreu. Isso provocou-me uma reacção corporal - corri para a casa de banho e comecei a vomitar, a tremer a e suar e não me conseguia recompor. Telefonei à minha gémea adoptada da Califórnia do meu telemóvel e disse: "Estou a ter um ataque de pânico, eu preciso de ouvir a tua voz, basta começares a falar, diz qualquer coisa" e à medida que ela ia falando a corda do balão começou a puxar-me de volta à terra e eu consegui sentir meus pés de novo no chão. Fiquei chocada com a violência e a rapidez com que tudo aquilo sucedeu devido a um flash de memória.
Embora assustada, fiquei contente por ter purgado o que quer que fosse. Sinto-me melhor desde então, apesar de nunca me ter apercebi da iminência daquele episódio.
O facto de ter tido a minha gémea adoptiva
para me assegurar que estava viva e me confortar naquela aflição foi uma sensação tão boa.

Foi das fases mais divertidas da minha vida. Se eu não tivesse tido esta maravilhosa experiência acho que hoje estaria mais limitada. Ela ajudou-me a saír da estagnação para me preparar para a viagem seguinte - a de finalmente começar a experimentar a minha verdadeira natureza própria e individual.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

É urgente reconhecermos os sobreviventes de gravidezes originalmente gemelares -para bem tanto da sociedade em geral como dos próprios indivíduos sobreviventes.

A consciência da condição de gémeo sobrevivente (que, quando adquirida, de repente se torna numa explicação clara para o que antes não fazia sentido) é inversamente proporcional à dor sofrida por aqueles que perderam com quem em tempos dividiram o lar-útero; aqueles que não deviam ter de sofrer entregues à solidão dos seus corações por não haver por parte da sociedade o devido reconhecimento.

Lutar sozinho contra esta condição inefável é especialmente difícil quando de início o problema é estar-se sozinho!
Temos que ser o salmão que nada rio acima num mundo não-gémeos, que afinal o são em número cada vez menor.
Em vez de olhar para o lado e ignorar temos hoje que ser diligentes, reconhecer e responder a esta epidemia iminente de gémeos sobreviventes: o número de gémeos e múltiplos está a aumentar, também como consequência das concepções medicamente assistidas.
Os gémeos sobreviventes estão por todo o lado à nossa volta. Dia a dia reinterpretam a sua vivência intra-uterina - o seu sonho do ventre -... alguns poucos sabem-no e estão a conseguir ultrapassá-lo, outros sabendo-o não conseguem evitá-lo, mas a maioria não faz a menor ideia.

É lidando com a situação ao nível pessoal e também social que, num curto espaço de tempo, poderemos curar-nos, colocando esta primeira parte da nossa história no seu devido lugar.

Livres para viver a vida sem estarmos presos a uma fidelidade ao passado, que nunca existiu no aqui e agora, e felizes por saber que honrámos a verdade conforme ela se nos apresenta, poderemos então dar largas às qualidades que são realmente nossas e nos ligam a este mundo. Deveria ser assim: deixar ir, largar o facto de ter começado como gémeo, por ter sido explorado, entendido, reconhecido e honrado, por estar agora no seu devido lugar.

Aquilo a que resistimos persiste, e continuar a ignorar este dilema não é mais uma opção. Não podemos minorar a importância do luto por estes "outros" perdidos e não podemos dar-nos ao luxo de continuar a ignorar a nossa verdade interior.

Tradução do texto de apresentação escrito por Monica Hudson em http://wombtwin-us.blogspot.com/