Womb Twin - Portugal

Gémeos singulares são pessoas que partilharam parte da sua vida intra-uterina (na maioria das vezes apenas umas semanas) com um ou mais irmãos ou irmãs gémeos idênticos ou fraternos que não chegaram a nascer. O segredo mais bem guardado até hoje é que o pequeno embrião já tem consciência, já guarda memória.

HAVERÁ PESSOAS GÉMEAS NASCIDAS SINGULARES QUE SOFREM TODA A SUA VIDA, COMO CONSEQUÊNCIA DESSA PERDA DO SEU COMPANHEIRO INICIAL?

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Mika - Final feliz

"Foi assim que me abandonaste, estou a falar a sério, sem esperança, sem vida, sem honra, sem um final feliz.

Acordo de manhã, tropeço na minha vida, não consigo receber amor sem esforço. Se alguma coisa acontecesse, acho que bem te desejava um bocadinho de céu e também um bocadinho de inferno.

Esta é a história mais difícil que alguma vez contei, sem esperança, sem vida, sem honra, o nosso final feliz sumido para sempre.

Sinto-me como se me estivesse a destruir, todos os dias me desperdiço.

Foi assim que me abandonaste, estou a falar a sério, sem esperança, sem vida, sem honra, sem um final feliz. Amámos como se fosse para sempre, mas não viveremos juntos o resto das nossas vidas.

São duas da manhã, tenho algo na minha mente, não consigo descansar, continuo a andar às voltas. Se fingisse que nunca nada de mau aconteceu, podia voltar a dormir, e pensar que podiamos simplesmente seguir o nosso caminho. (...) "

Mika - Happy Ending

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Testemunho de criança

Este desenho foi feito por uma menina de 6 anos - é a capa de um livrinho que ela quer escrever.
Ela é uma criança tranquila, delicada, tolerante, mas teve já alguns momentos em que sem justificação aparente rebentou num choro inconsolável a chamar pela mãe com quantas forças tinha (ao colo da mãe).

As seguintes características levam a supor ter tido uma irmã no útero materno durante a sua gestação:
- Durante a sua gravidez a mãe teve de ficar em repouso durante várias semanas devido a hemorragias no primeiro trimestre.
- O seu parto foi complicado, nasceu inconsciente, por cesariana de urgência, e durante os primeiros dias apanhou uma meningite viral.
- Desde os 3 anos que fala da sua amiga Catarina, procurou-a quando entrou para o infantário e ao fim de uns meses queixou-se à mãe em pranto que "parece que a Catarina não existe. Nunca mais chega..."
-Desde pequenina que diz que não quer crescer, quer ficar bebé para sempre, e fica muito perturbada quando lhe dizem que está tão crescida.
- Tem pavor a ganhar nos jogos infantis; chora desesperada e diz "eu não queria que os outros perdessem..."
- Gosta muito de falar de Jesus, dos anjos, e diz que conversa com a Nossa Senhora quando se sente em aflição.

Um dia, num momento em que estávamos só as duas, disse-me:
"Eu tive uma irmã gémea quando estava na barriga da mamã, como tu. Ela estava lá comigo e brincávamos as duas. Depois eu cresci muito e ela ficou pequenina, até ser só um pontinho. Eu fiquei muito triste."

Depois de contar esta sua história ela sentiu-se mal, fraca, enjoada, mas também irritada. Eu deixei que exprimisse tudo o que quis, acolhi esse mal-estar. Mais importante que isso, eu mostrei-lhe que acreditava no seu relato depois ofereci-lhe um colo e um chá, e pouco depois ela estava melhor e foi brincar.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Lidar com o luto

Uma carta de Eloïse, membro da Associação wombtwin.com a uma mulher desesperada pela dificuldade em lidar com o sofrimento que a invade quando pensa na sua irmã gémea que, há pouco tempo, tomou consciência ter perdido no início da sua gestação.

Cara amiga

Ai, aquele vazio e aquela perda... são tão profundos... e talvez nunca possam vir a ser preenchidos, mas realmente acredito que em grande medida podemos curar-nos.

É natural que sinta a dor e a tristeza - está reviver as emoções da sua vida intra-uterina e são tão intensas porque, como sabe, morreu ali uma parte de si... a sua amiga mais chegada, a sua alma gémea, ... Acredito que temos de ser nós a preencher esse vazio a partir de nós próprios; não podemos esperar que alguém o venha preencher desde fora.

Reservarmos um cantinho nos nossos corações para o amor por aqueles que são e serão sempre os nossos companheiros de espírito mais próximos, não tem mal nenhum.

Descobri acerca dos meus companheiros de ventre perdidos (irmã idêntica e irmão fraterno) há aproximadamente 7 anos, por N.E.T. (quinesiologia). Tem sido uma grande viagem. O que tenho aprendido é que provavelmente é mais curador não estar à espera de uma espécie de ponto final. É uma viagem da aceitação que tem muitas curvas e solavancos, há períodos de grande alegria e uma sensação de unidade, e logo o contrário. Tenho de admitir que ainda estou a lidar com a minha vivência no ventre e a aprender cada dia mais... mas sei agora que é antes de tudo, e em primeiro lugar, uma questão de saber perdoar-se. Ainda estou a trabalhar nisto!!! Conseguir perdoar-se a si próprio é parte integrante da história, tenho a certeza, porque penso que a maioria sente várias formas de culpa-de-sobrevivente. Lembro-me que no passado me foi útil pensar que a nível espiritual houve um momento em que cheguei a um acordo com os meus trigémeos. Foi em conjunto que decidimos o caminho que as coisas deviam tomar, e assim não há necessidade de me sentir culpada por estar viva.

A perda é enorme, mas penso que quando compreendemos a relação que temos com os nossos gémeos 'perdidos', podemos aceitá-la. Eles estão lá para nós quando precisamos deles (não estão realmente PERDIDOS, apenas partiram nas suas próprias viagens) – e penso que através deles temos o dom de conseguir explorar outros mundos.

Trata-se de conseguirmos encontrar aquela parte de nós próprios – chamem-lhe intuição ou uma empatia assombrosa que muitos de nós têm, ou uma orientação mais alta – que eu penso ser a nossa conexão aos nossos gémeos e múltiplos. Eles falam-nos através dessas coisas, para alguns será talvez a natureza, a criatividade para outros, seja o que for será algo que nos faz entrar em contacto com aquele conhecimento interior de que existe ali algo maior do que nós... bem, isto é como o vejo... Estamos cá para compartilhar o dom de termos experimentado esta breve conexão profunda, e logo aprendermos a transportá-la para as nossas vidas possivelmente através do nosso trabalho, dos nossos amores, das nossas crenças espirituais, etc.

Ser capaz de partilhar a vida com os demais sem deixar que a nossa vivência no ventre tome conta de tudo é algo de tão complexo! Continuo a trabalhar nisto diariamente!!!

Você encontrará um modo de comunicar-se com a sua gémea. A escrita, o desenho, o exercício, a marcha na natureza, a natação, a dança, a música, o canto, etc. A escrita com a mão não-dominante pode ser um grande método de deixá-la falar-lhe. Fale com a sua gémea, dê-lhe um nome, faça o luto por ela, faça-lhe um funeral, e a parte mais difícil está em deixá-la ir no sentido de lhe permitir viver a SUA vida, sabendo que ela quereria que fosse muito feliz aqui na Terra.
O meu conselho é que deve permitir-se sentir tudo - grite tanto quanto precisar de gritar, bata em almofadas ou algo assim, faça algum exercício se puder, mova-se um pouco ao ar livre... mas antes de tudo assegure-se de que toma todo o cuidado consigo, que se trata com respeito, como o faria com alguém em aflição. É realmente importante saber honrar o que está a sentir, e como as ondas no oceano, lá virá um dia em que se sentirá mais calma. Tome o tempo que for necessário. Lembro-me de que nalgum momento na minha viagem imaginei-me como uma criança que eu acarinhava, a quem ternamente dizia que estava tudo bem, estava em segurança, era amada etc. ... Faça o que lhe parecer adequado para si - você saberá. Confie no seu instinto, ninguém mais pode saber como é melhor para si.
O luto é uma coisa tão pessoal para todos nós. Só você saberá como lidar com ele porque você é uma SOBREVIVENTE. Você é forte.

Estamos todos no mesmo barco, possivelmente em etapas diferentes das nossas viagens, desejo-lhe o melhor para a sua. Seja meiga para consigo,
Eloïse

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Apoio emocional a bebés meios-gémeos


Paula Diederichs, uma prestigiada terapeuta psico-corporal alemã que tem orientado em Portugal acções de formação para profissionais no Acompanhamento Psico-Corporal em situações de Crise a Grávidas e Bebés, (informações e pormenores da formação aqui),aplica nas consultas o seu método de Primeiros Socorros Emocionais, testado desde há 12 anos em Berlim, e noutras cidades alemãs.

Trata-se de um tipo de apoio emocional, uma terapia suave e breve para mulheres grávidas em qualquer fase, e bebés ou crianças até cerca dos dois anos, que procura reequilibrar a instabilidade presente na grávida ou na criança/mãe/pai, de modo a evitar o futuro agravamento dos sintomas, e prevenir distúrbios comportamentais.
Quer se trate de um filho já nascido ou ainda não, a operação de assistência é sempre conjunta à tríade mãe-filho-pai (ou filho-mãe ou filho-pai, no caso de só um ser educador) e inclui em simultâneo os aspectos relacional e corporal - a massagem e outras técnicas.
No decorrer deste trabalho a linguagem e expressão corporal dos bebés torna-se mais meiga e coordenada, e o seu contacto emocional com o mundo muda, expande-se. As mães e os pais ficam mais calmos, e mais seguros das suas capacidades para cuidarem dos filhos.
Em Portugal o grupo Crescer Com Colo reúne alguns dos terapeutas formados por Paula Diederichs e dá uma informação mais alargada acerca deste método.

Os bebés gémeos solitários também podem tirar partido deste trabalho. Segundo Paula Diederichs, que trabalha actualmente com um menino que perdeu a sua irmã no sexto mês de gravidez, “a criança também tem ali, assim como a mãe, a oportunidade de vivenciar os seus sentimentos em relação à irmã desaparecida e a toda a questão da perda.” Ele acaricia e beija a boneca que a mãe escolheu para o seu processo de luto, fazendo deste modo o seu próprio processo de individuação em relação à sua irmã gémea falecida. É um trabalho de cura através do acompanhamento do luto da díade filho/mãe em conjunto, mas também do luto de cada um individualmente.

Paula Diederichs trabalha a partir do coração ouvindo com atenção e respondendo com afecto e sabedoria. A sua atitude amorosa cria uma atmosfera de segurança e responsabilidade; transmite um grande respeito pelo sofrimento das pessoas que a procuram.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O feto é inteligente

O 1º encontro de gémeos que se realizou em Óbidos há um ano atrás terá sido um bom motivo para pais de gémeos se conhecerem e trocarem experiências, e para os gémeos presentes partilharem aquilo que todos os gémeos têm em comum - a sua condição de não terem sido gerados sozinhos, logo, de terem uma relação excepcionalmente próxima com um irmão ou irmã.
Para além deste motivo mais festivo, Isabel Seara, organizadora do encontro e vice-presidente do Grupo de Gémeos, também aproveitou, em bom tempo, para dar visibilidade à problemática da redução selectiva ou interrupção de gestações multifetais na reprodução medicamente assistida por técnicas de inseminação artificial, (pode ler mais sobre o assunto em inglês aqui) dizendo, como pode ler-se no
Jornal Oeste Online, que “o Estado não se deve imiscuir na vida privada das famílias e das grávidas que optaram pela inseminação artificial”. O seu argumento é então considerar que “a felicidade da fertilidade se sobrepõe ao risco da gravidez de múltiplos”.

Há aqui uma informação importante em falta, relacionada com a vivência do feto que fica depois de se ter interrompido a gestação do/s seu/s irmão/s gémeo/s.
Como sabemos, por experiência própria, a alma do feto "tem o tamanho" da alma do adulto! Ele sente o que se passa à sua volta, e mais do que isso, tem acesso aos sentimentos das pessoas que o cercam, possivelmente através da mãe. Existe uma comunicação intensa (fisiológica e/ou espiritual) entre o embrião e a mãe desde a formação do blastocisto, ficando tudo registrado na extraordinária capacidade da sua memoria celular (ou espiritual).
Temos que nos colocar a questão de como se sentirá uma pessoa que "sobreviveu" a uma intervenção médica em que indiferenciadamente os seus irmãos foram eliminados?

Este caso narrado por Thomas Verny e John Kelly no seu livro A Vida Secreta da Criança antes de nascer, uma referência da psicologia pré e peri-natal, demonstra a consciência que o feto tem de tudo o que se passa com a sua mãe e a sua envolvente
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O Dr. Peter F. Freybergh, professor de obstetrícia e ginecologista da Universidade de Upsala, na Suécia, observou que Kristina, um bebé robusto e bem comportado, revelou um estranho comportamento: recusava-se a mamar no seio da mãe. Aceitava o biberão ou o seio de outras mulheres, mas não queria nada com o alimento materno. Dr. Peter, indagando da mãe a razão de tal comportamento, recebeu um “não sei” como resposta. Quando, porém, o Dr. Peter foi mais incisivo na pergunta: “Mas você desejava realmente esta gravidez?”. Ela esclareceu: “Eu queria abortar, mas o meu marido desejava esta criança, então, mantive-a”. “Isto era novidade para o Peter, mas obviamente não o era para Kristina”, comenta o Dr. Verny; “Afectivamente rejeitada no útero, Kristina, com apenas quatro dias de vida e inteiramente dependente, estava firmemente decidida a rejeitar a sua mãe”.

A Dra. Joanna Wilheim, Presidente da Associação Brasileira para o Estudo do Psiquismo Pré- e Peri-Natal, afirma com base nos seus estudos científicos que “Se conceituarmos inteligência como a capacidade para auto-gerir-se mentalmente; adaptar-se e adequar-se a situações novas; seleccionar condições e aproveitar experiências – o que implica aprendizado e memória -, podemos concluir que de facto elas estão presentes no feto desde o período inicial da gestação”.