Começamos
por questionar-nos como se sente alguém que presencia a morte de um familiar muito
próximo e querido. E como se sente essa pessoa se nas semanas e meses seguintes
ninguém mais mencionar o sucedido? Se, apesar dos seus imensos esforços para relatar
como se sente e o que aconteceu, ninguém a entender? Como se sente essa pessoa
se, para além disso, tentarem desviar a sua atenção para outras coisas,
porventura “lindas”, para outros acontecimentos aparentemente
"fantásticos", sem antes ter sido reconhecidos e validados a dor que
ela traz no peito, a confusão e o sofrimento com que ela se debate?
É
preciso conhecer o gémeo solitário adulto para poder saber como lidar com o bebé.
Estas
pessoas perderam alguém que fez parte da sua vida e com quem tiveram um
relacionamento especial e único, mesmo que tenha sido apenas durante as
primeiras semanas de vida intrauterina. Em geral os sentimentos observados em
gémeos solitários são: sensação de ser diferente dos outros, confusão em
relação à sua identidade ou à identidade sexual, tristeza insondável,
sentimentos de culpa, grande falta de autoestima, solidão, sensação de falta e
incompletude, falta de energia de vida alternando com energia a mais, raiva ou
ressentimento, medos inexplicáveis, atração pela morte e dificuldades nos
relacionamentos. Persiste na pessoa desde o seu nascimento uma sensação
insondável de que algo ou alguém falta e que algo dramático aconteceu.
Althea
Hayton, fundadora da associação Wombtwin.com em Londres, afirma que o gémeo
solitário procura durante toda a sua vida reinterpretar ou preservar o que
viveu no ventre materno: a história da relação com o seu irmão gémeo. E diz
ainda Hayton que ele não olhará a meios, recorrerá a todo o tipo de fantasias e
ilusões no sentido de recriar essa sensação em si, a custo de muito sofrimento
pessoal. Apesar de presente em determinado nível da consciência, na maioria dos
casos a memória da perda é insondável e incompreensível, o que dá origem à
muito referida sensação de ser diferente e de haver algo de errado em si. A
impossibilidade de entender o que provoca o sofrimento é uma das maiores causas
de angústia.
A
criança que sabemos que foi gémea e perdeu o seu irmão ou irmãos necessitará daquilo
de que sente falta o adulto, isto é, de ser vista e aceite como é, de ser
validada no que sente, de ser tratada com respeito apesar das suas diferenças e
especificidades. Ao receber estes cuidados em criança ela poderá recuperar a
autoconfiança e a autoestima perdidas. É deste modo que poderá entender que não
há nada de errado consigo.
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