Não suporto que não me vejam, que não me adorem, que não me admirem. Porque assim não vêem, não amam nem admiram o pequeno embrião que me acompanhou no início, quando eu também era apenas um embrião; que se parecia comigo e tinha o meu ADN.
Para vê-lo, para ver a minha outra metade, só preciso de olhar-me ao espelho. Eu e minha imagem no espelho somos inseparáveis, juntos somos um só, nós os dois. Amo-o e admiro-o tanto que quero que todos saibam que ele é fantástico (isto é, que eu sou fantástico). Quando os meus amigos não me acham o máximo, se não me sinto querido e protegido, vem aquele peso, aquela vergonha, como se eu não tivesse o direito de viver. Porque no meu íntimo eu não me conformo de não ter conseguido ficar com o meu querido Outro Eu. É um terrível sentimento de culpa, mas também de medo, de pânico mesmo, de não conseguir sobreviver sozinho; por vezes preferia mesmo estar morto como a minha "outra metade".
Nunca me poderei libertar desta minha história antiga, isso nunca poderá acontecer, nunca, ela pertence-me, faz parte de mim, é o que eu sou. Mas se poder olhá-la de frente talvez fique mais aliviado. Se entender o que se passa comigo posso desculpar-me de todo este sofrimento, posso tentar esquecer a dor e guardar apenas a oportunidade de não ter sido gerado sozinho.
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