Para além de muito simbiótica (o gémeo sente intuitivamente o que o seu irmão sente, ele não pode evitar essa percepção), a vivência intra-uterina que os gémeos experimentam é, para além de espiritual, sobretudo corporal. O toque, o contacto físico com o seu amigo do início de vida são-lhe tão familiares, dão-lhe segurança e conforto. No início ambos se sentem unidos como se fossem um só Ser. O vínculo entre eles é de tal proximidade... , não têm como entender a diferença entre si... é uma intimidade difícil de descrever.
Desde o seu nascimento, e à medida que crescem, os bebés gémeos vão tomando consciência dos seus limites corporais, vão distinguindo aquilo que é o seu corpo do que é o corpo do seu irmão ou irmã, vão se tornando indivíduos separados um do outro. Mas mesmo que a vida e a distância os separe, a intensidade do seu vínculo de amor fraternal mantém-se, assim como a sua história de uma ligação inicial de grande intimidade. Aqui uma mulher descreve a relação com a sua irmã num testemunho muito bonito dessa cumplicidade. Outro testemunho na primeira pessoa, que fala da saudade de contacto inclusive corporal, é de uma rapariga que perdeu a sua gémea já em adolescente, ver aqui.
A vivência pré-natal influencia a vida presente ao nível das relações sociais, da vida profissional e com certeza também da vida sexual. Profundamente amorosa a relação entre gémeos não tem um cariz sexual, no entanto, na vida fora do útero, a relação sexual é um dos modos de relacionamento humano que se aproxima muito deste nível de intimidade entre dois Seres.
Para os sobreviventes de uma gestação gemelar a procura do parceiro sexual poderá estar impregnada da tentativa de resgatar esta vivência remota, tão longínqua quanto presente - a unidade com o Outro. A expressão dessa sabedoria corporal interna pode assim assumir a forma de homossexualidade, como uma possibilidade de recuperar a sensação da relação corporal com um gémeo do mesmo sexo.
A traumática perda de um gémeo nas primeiras semanas de gestação pode influenciar as escolhas e orientação sexual do sobrevivente, levando-o a procurar ligar-se àquela pessoa que melhor satisfizer a sua necessidade de recriar o tipo de intimidade que o seu corpo recorda do tempo em que era apenas um pequeno embrião.