No caso dos sobreviventes que tiveram um gémeo do sexo oposto para além da indefinição de identidade surgem também as indefinições de género. Porque é que como homem sinto tanta necessidade de me exprimir através da minha energia feminina? ou, de onde me surge tanta energia masculina se sou uma mulher?
Na cultura nativo-americana original os chamados Two Sprits (Dois-Espíritos) também intitulados Twin Sprits (Espíritos-Gémeos) eram indivíduos que apresentavam indefinição de género, quer fosse a nível das características da sua personalidade, dos estilos de vida que escolhiam, da sua opção sexual, ou mesmo a nível dos órgãos genitais.
Conforme a tribo a que pertenciam eles usavam vestes próprias e segundo o que intuitivamente sentiam ser a sua missão eram curandeiros, artistas, profetas, ... Estes indivíduos eram considerados do terceiro género porque não se identificavam nem com as características definidas para os homens nem com as que eram apropriadas para as mulheres. Venerados como extraordinárias fontes de informação sobre a natureza humana, acreditava-se que eles tinham o poder de trazer à sua tribo um maior equilíbrio entre os princípios masculino e feminino.
É interessante observar que para o povo Navajo a história da Criação se desenrola em torno de lendas que incluem numerosos pares de gémeos (entre os Lakota os gémeos eram "wakan" sagrados). Numa das maiores cerimónias dos Cheyenne, a “Dança do sol” que celebra a Nova Vida, eram Two Spirits os líderes do ritual sagrado. Este hino à Nova Vida evidencia a consciência de que a Vida só é possível quando flui a partir das energias mágicas da gemelaridade, aqui entendida como o conceito da dualidade: na vida, no mundo natural, tudo existe em equilíbrio - masculino/feminino, grande/pequeno, luz/escuridão, bom/mau, céu/terra.
Com uma atitude que nutre e abarca todas as coisas dando-lhes protecção e apoio indiscriminados, e uma grande abertura nomeadamente para aceitar e apreciar a complexidade humana, a sabedoria ameríndia acolhia os Twin Spirits ou Two Spirits com reverência e alegria.
Uma ideia que me sugere esta comovente tradição: serão aqueles que perderam irmãos gémeos no útero materno literalmente a morada física de duas ou mais entidades espirituais? e também, terão estas pessoas competências muito próprias, mas pouco exploradas por uma sociedade ocidental que não recebe bem a diversidade e a diferença?
Nestes ritos e sabedorias ancestrais, encontramos, se formos suficientemente humildes, respostas simples, tão ignoradas pela sociedade geral. Cabe a cada um de nós redescobri-las e ensiná-las, não com discursos inflamados, mas com posturas contagiantes!
ResponderEliminarBem-haja pelo teu blog :-)
Joana