Como me são sempre colocadas questões quanto à possibilidade de esta hipótese que apresento aqui ser especulativa, uma mera divagação de algumas pessoas que resolveram acreditar em histórias cheias de imaginação (que no lugar de fantásticas fadas e duendes colocaram adoráveis gémeos, trigémeos e outros múltiplos) recolhi afirmações de uma pessoa idónea que investiga e trabalha há anos com esta matéria. Pedi à psiquiatra e neurologista Drª Nancy Greenfield, de Maiami FL, que fizesse um comentário que achasse mais pertinente para nós, e aqui está a sua explicação clara e concisa:
“Com base na minha pesquisa e na investigação actual da psicologia tradicional, posso afirmar que o relacionamento entre gémeos é o mais íntimo de todos os relacionamentos humanos. Consequentemente, a experiência de perder um irmão gémeo em qualquer momento ao longo da vida pode ser a mais dolorosa das perdas de relacionamento humano. Costumava-se pensar que a perda de um filho era para uma mãe (pai) a forma mais sofrida de perda. Hoje considera-se que a perda de irmãos gémeos tem condições para ser mais dolorosa. Isso acontece porque a relação entre gémeos é mais próxima, mais íntima e mais entrelaçada (física-, emocional-, psicológica- e espiritualmente) que a relação entre a mãe e seu filho.
É importante dizer que, devido à ligação profunda entre gémeos, a perda de um irmão gémeo, independentemente da idade em que ocorra, pode deixar no sobrevivente marcas para toda a vida. Essas marcas variam e podem afectar a forma como o gémeo sobrevivente se sente a si próprio: inclui questões de auto-estima; o sentimento de que a vida é um caminho seguro ou inseguro; como sente os relacionamentos, se acredita na possibilidade de serem estáveis ou não; assim como outras crenças, expectativas e percepções sobre a sua experiência de vida. Pode haver uma sensação de falta de alguém que devia acompanhar o gémeo sobrevivente ao longo da sua vida, bem como uma sensação de incompletude e profunda solidão. Podem persistir ainda sentimentos de perda não identificada, tristeza, culpa, saudade ou confusão, etc.
Dada esta explicação sobre a profundidade e a intimidade gemelar, quero referir que a minha área de trabalho, conhecida como "psicologia pré- e perinatal" (PPN), acredita que desde a concepção há consciência presente no novo ser.
Acredita também que talvez até 70% de nós, que pensamos ser singulares, podemos na realidade ter sido concebidos como gémeos ou múltiplos, tendo um ou mais dos gémeos morrido durante as primeiras semanas da nossa gestação. Isto é conhecido como o "gémeo morto" ou "o síndrome do gémeo desaparecido".
A pesquisa da PPN sugere então que devido à presença de consciência já no útero a relação gemelar embrionária tem o mesmo nível de intimidade que uma relação de gémeos após o nascimento e durante outros períodos da vida. Portanto, uma perda de um dos gémeos durante a fase embrionária e uma perda que ocorra a qualquer momento durante a gestação, pode ser tão devastadora e dolorosa para o embrião/feto ou pré-nascido sobrevivente como uma perda que ocorra a qualquer momento após o nascimento e ao longo da vida."
Nancy Greenfield, Ph.D., R.C.S.T.
domingo, 20 de setembro de 2009
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