Nos passados dias 2 e 3 de Janeiro a RTP2 passou os dois episódios do documentário "Twins" da BBC. O documentário, que resulta de um estudo cientifico envolvendo 10 mil gémeos, questiona aquilo que constrói a nossa identidade.
A partir do estudo de gémeos idênticos os cientistas observam o que faz com que esses irmãos gémeos tenham desenvolvimentos diferentes, já que a sua informação genética é exactamente igual. O estudo consiste em entender de que modo eles estão destinados a ter vidas idênticas ou até que ponto o meio ambiente pode ligar e desligar determinada informação genética e alterar os seus percursos de vida.
Devido à possibilidade de acompanhar com tanto pormenor a gravidez, através das ecografias 3D, os investigadores conhecem cada vez melhor o que se passa durante a vida intra-uterina. Hoje em dia eles sabem que, sendo um espaço pequeno, o útero oferece um mundo de possibilidades, e que os gémeos apesar de partilharem esse mundo podem ter vivências muito diferentes, e consequentemente desenvolvimentos muito diferentes mesmo antes de nascerem.
A epigenética é uma área de estudo que se debruça sobre a influência que as experiências de vida e o ambiente em que uma pessoa se move exercem sobre a disposição genética desse indivíduo.
É o perfil epigenético que é diferente nos gémeos idênticos, conforme o que vivem a expressão dos seus genes é modificada por agentes que os ligam ou desligam.
A Epigenética é tão revolucionária que está a mudar o modo como os cientistas vêem as mais conhecidas e debilitantes doenças. O Prof. David Leslie, geneticista que estuda há longos anos o genoma humano, afirma que depois de estudar os gémeos se tornou um não-geneticista pois compreendeu que não são os genes que nos trazem as doenças mas sim a interacção do ambiente com os genes. Essa interacção é que é importante.
E eu pergunto: se o ambiente vivido dentro do útero envolve por exemplo a morte de um outro embrião gémeo, não podemos esperar do sobrevivente uma profunda e elementar modificação epigenética do seu genoma original? E se essa modificação se deu devido a uma ocorrência externa, não será ela reversível?
Entre os vários casos apresentados destaco ainda a observação da sincronicidade a nível corporal entre gémeos idêncicos. É relatada a história de dois irmãos idênticos que apesar de terem optado por estilos de vida opostos (um alimentava-se de modo muito saudável e era fisicamente activo e o outro era sedentário e comia "mal") ambos sofreram de problemas de coração no mesmo local e do mesmo tipo. Como será isto possível? Como este documentário não inclui a dinâmica psicológica a questão fica no ar. No entanto eu arrisco: estarão eles ligados a nível emocional a ponto de o irmão saudável ter sido influenciado pelo irmão doente a, por amor, desenvolver a mesma doença?
Aqui uma explicação clara do que é a epigenética (apesar de ficar aqui esquecida a vivência pré-natal):
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